Descrição de chapéu Coronavírus

Brasil vai na contramão do mundo e cai intenção de se vacinar contra Covid, diz levantamento

Análise de 23 países aponta aumento médio de 5,2% na aceitação vacinal global em 2022; Brasil teve queda de 3,3% no mesmo período

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São Paulo

O Brasil foi na contramão da tendência mundial e apresentou queda na aceitação da vacinação contra Covid no último ano.

Em todo o mundo, o desejo de se vacinar contra a Covid subiu em média 5,2%, passando de 75,2%, em 2021, para 79,1%, em 2022, segundo pesquisa com 23 países conduzida pelo Instituto Global de Saúde de Barcelona (ISGlobal).

Já no Brasil, os respondentes que disseram concordar com a vacinação caíram 3,3% em relação a 2021, de 90,2%, em 2021, para 87,2%. Apesar disso, o Brasil mantém uma alta cobertura vacinal com duas doses (quase 81% até o último dia 6).

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Paciente é vacinado contra Covid e Influenza na UBS Jardim Edite, na zona sul de São Paulo - Bruno Santos - 6.jul.2022/Folhapress

Além do Brasil, os outros países que tiveram queda na aceitação da vacinação contra Covid foram Reino Unido (-1%), China (-1%), Turquia (-2,7%), Quênia (-8,5%), México (-9,4%), Gana (-13,8%) e África do Sul (-21,1%).

A pesquisa intitulada "Um inquérito de aceitação vacinal da Covid-19 em 23 países em 2022" foi publicada nesta segunda (9) na revista especializada Nature Medicine. Além do ISGlobal, conta com a participação de cientistas da Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres, da Universidade da Cidade de NY (Cuny), em Nova York, e do Instituto de Métricas e Avaliação em Saúde (IHME), da Universidade de Washington, entre outros.

Os dados do levantamento foram coletados de 29 de junho a 10 de julho de 2022 em 23 países. Foram ouvidos mil participantes em cada país com 18 anos ou mais de idade, totalizando 23 mil participantes. Do total, 50,3% eram mulheres e 45,6% reportaram ter uma renda média mensal acima da renda per capita do país.

Os países foram selecionados segundo o peso global de morbidade e mortalidade por Covid no primeiro ano da pandemia e foram feitos inquéritos para avaliar a aceitação vacinal em 2020 e 2021.

A pesquisa avaliou também a aceitação da vacina entre aqueles que são pais de crianças e adolescentes com menos de 18 anos, incluindo pais que receberam pelo menos uma dose.

O Brasil apresentou índice elevado de pais que têm medo de vacinar seus filhos, com um aumento de 56,3% na hesitação de 2021 para 2022 (de 8,7% para 13,6%). Quando considerados os que receberam pelo menos uma dose, porém, essa taxa vai para 5,4%.

Em relação às doses de reforço, o estudo encontrou menores taxas de hesitação em países de renda baixa e média em comparação àqueles de maior renda. No Brasil, só 3,6% dos respondentes disseram hesitar em receber reforços da Covid, ocupando assim a terceira posição entre os que mais acreditam no reforço vacinal. Já Rússia (28,9%), França (26,1%), África do Sul (18,9%) e Canadá (17,6%) apresentam as taxas mais elevadas de hesitação.

Apesar do contrassenso, o Brasil ainda apresenta cerca de cem milhões de pessoas que não buscaram um ou mais reforços da Covid, segundo nota divulgada pelo Ministério da Saúde na última semana.

De acordo com as informações da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS) divulgados pela pasta, 69 milhões de brasileiros ainda estão com a terceira dose (ou primeiro reforço) da vacina em atraso, e outros 30 milhões que já poderiam receber a quarta dose (ou segundo reforço) não o fizeram.

Segundo o estudo do ISGlobal, cerca de um oitavo (12,1%) dos participantes que disseram ser vacinados apresentam hesitação em relação às doses adicionais. Isso pode revelar uma intenção inicial positiva quanto à vacinação contra Covid, especialmente em 2020 e 2021, mas uma queda na confiança global dos imunizantes com a necessidade de novos reforços e o surgimento de novas variantes. Os achados corroboram outras pesquisas que apontaram menor índice de escolaridade e de renda como fatores ligados à hesitação vacinal.

Outro dado preocupante da pesquisa é que, apesar de serem contraindicados pela OMS (Organização Mundial da Saúde) e por demais entidades de saúde para tratamento de Covid, 27% dos participantes que disseram ter se infectado no último ano reportaram terem começado o tratamento com ivermectina ao primeiro sinal dos sintomas. No Brasil, o dado é ainda mais alarmante: 79,5% dos respondentes que disseram ter se medicado para tratar a Covid fizeram uso de ivermectina.

Com o aumento de casos nas últimas semanas em países como China, Estados Unidos e Europa, os pesquisadores alertam para a redução na procura por informações confiáveis de Covid no último ano. De acordo com a pesquisa, quase dois terços (38,6%) dos participantes disseram que prestam menos atenção às notícias relacionadas ao coronavírus agora do que no ano anterior.

Os pesquisadores do levantamento publicaram, em novembro do último ano, uma carta listando os principais consensos médicos para a Covid e como eles podem auxiliar na tomada de decisões.

Segundo Jeffrey Lazarus, coordenador do levantamento do ISGlobal, é preciso entender os efeitos localmente para combater a hesitação vacinal em cada país. "Há uma percepção de que a pandemia acabou porque a Covid não é tão mortal quanto antes, em parte porque as pessoas estão vacinadas. Isso é um grande erro, pois ignora a realidade da pós-Covid que afeta milhões em todo o mundo", afirmou.

Ainda segundo o pesquisador, existe uma associação entre as falas de autoridades e a vontade da população de se vacinar. "Isso ocorreu em parte da população, com as falas contrárias do ex-presidente Donald Trump, nos EUA, e de Bolsonaro, no Brasil. Com o retorno de Lula [à presidência], eu espero que a aceitação da vacinação aumente e que ela também se torne mais acessível, buscando as populações marginalizadas que não foram procuradas pela administração anterior", completa.

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